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Mensagens de Amor

Me arrependi de ter traído

Me arrependi de ter traído
A traição de um compromisso de fidelidade sexual nem sempre é um ato premeditado, vingativo ou que sinaliza mau-caratismo. Essas são visões estereotipadas (ainda que existentes) que a sociedade constrói para facilitar o julgamento e tornar a pessoa traída uma vítima injustiçada e quem traiu, o malvado insensível.

Na prática existem muitas motivações para a traição que revelam dois aspectos do tema:

1 – O primeiro é que nem todo mundo tem preparo psicológico para a fidelidade, pois ainda que tenham boa vontade, são pessoas que cedem com facilidade aos seus impulsos e agem muito autocentradas sem se preocupar com as consequências de sua atitude. Além do mais, tem uma autoestima dependente de aprovação externa, numa busca de autoafirmação amorosa e sexual.

2 – O segundo aspecto é que mesmo que um casal fique “grávido” juntos, a relação também adoece junto. Nesse momento de “adoecimento conjugal” é que a traição surge, onde os laços são fracos e superficiais, a relação é de aparência (ou por conveniência), e o interesse em compartilhar bons momentos – dentro e fora da cama – desaparece.

Nesses casos a traição pode ter como resultado uma crise de consciência, daquele tipo que queima até a garganta e a pessoa se dá conta de que suas dúvidas, carências e medos têm outra origem. Na busca por autoafirmação sexual ou amorosa a pessoa se percebe frágil do mesmo jeito que antes e consegue entender que não é buscando uma aventura sexual que irá resolver ou desviar de seus conflitos no relacionamento.

Mas e agora, o que fazer depois do arrependimento? O primeiro passo é tentar fazer uma análise profunda de si mesmo e o que foi buscar ao trair; em seguida, saber o quê na dinâmica do casal abriu um espaço para esse tipo de dúvida, aflição e desejo incontrolável. O ponto principal não é encontrar culpados, mas pensar sobre o próprio comportamento para entender as motivações pessoais. A resposta nem sempre é fácil.

Contar para a pessoa amada é a melhor saída? Depende do que se entende por melhor saída, pois nem todos os casais têm sabedoria para tratar a confissão de uma traição como um pedido de ajuda e reavaliação do relacionamento. Nessa hora é mais fácil gritar, sentir raiva e autopiedade, e embarcar numa guerra sem fim.

É muito comum os casais que passaram por uma traição seguirem numa falsa sensação de perdão mútuo, mas que no fundo ainda guarda os rótulos de vilão e vítima. A confissão por si só pode ser só mais um jogo de dominador-dominado. O fundamental é repensar e dar um novo rumo para o relacionamento.

Sei também que muitos casais conseguem levantar boas reflexões sobre suas vidas e essa crise os ajuda a revigorar a vida pessoal. Se a traição foi a gota d'água para um término adiado qualquer tentativa de confissão ou recuperação será árdua e até infrutífera, mas se a ideia é abrir a perspectiva para uma nova fase, então é importante que tudo seja colocado em pratos limpos com educação, respeito e assumindo a sua parte no drama todo.

Um casal pode renascer de uma traição, mesmo que isso pareça utópico.

escrito por

Dr. Frederico Mattos Psicólogo

Psicólogo clínico junguiano há 10 anos formado pelo Mackenzie, especialista em relacionamento amoroso, autor dos livros "Por que fazemos o mal?", "Mães que amam demais" e escreve diariamente em seu blog "Sobre a Vida".